sábado, 22 de outubro de 2011

DO ESTAGIÁRIO ESPECIAL

Quando cursei Administração de Empresas, cheguei à conclusão de que deveria me dedicar à área de Recursos Humanos, já que acreditava que seria muito interessante trabalhar na seleção de pessoal. Tenho a pretensão de achar que saberia detectar as potencialidades de candidatos a determinadas vagas. No penúltimo ano da faculdade, tentei conseguir estágio nessa área e  fracassei totalmente. Mas consegui emprego na área de Finanças, no que me especializei, e não em RH, e considerei que não teria mais a chance de participar de nenhum processo de seleção, na condição de selecionadora. Mas, em uma única ocasião, aconteceu: trabalhando no Banco do Brasil, fiquei um tempo na área de Pessoal e, apesar dos funcionários serem todos concursados, houve, a partir de 1990, mais ou menos, contratação de estagiários. Por sorte, para mim, chegaram as férias do responsável pela seleção de estagiários e fiquei no lugar dele. Como avaliação aos candidatos,tinha sido elaborado um teste, de forma até bastante inconsistente, um questionário com alternativas de múltipla escolha, que tentava avaliar alguma coisa do avaliado. Rapidamente, fui informada que esse teste havia mesmo sido elaborado às pressas, na falta de algo melhor. Sem também me sentir apta a melhorá-lo, incluí a elaboração de uma redação, para que me sentisse um pouco mais segura na seleção. Foi a experiência pela qual eu aguardara por muito tempo. Quando comecei a ler as redações, a maioria tinha uma qualidade bem ruim, mas, dentre tantas tentativas mal sucedidas de elaborações de frases com significados consistentes, até com o tema sugerido, fui surpreendida por um texto muito bom, que destoava de tudo que tinha lido até então. Selecionei-o imediatamente e chamei o candidato para conversar. Lembro-me de um sujeito franzino, tímido, cuja aparente desenvoltura não sugeria nada do excelente potencial, depois revelado. Contratado por um ano, na qualidade de estagiário, não só ajudou na elaboração de rotinas de equipe de trabalho de um setor  recém constituído, como elaborou um manual (muito elogiado por quem o usou) para ser utilizado na execução dos serviços, no setor que deixou um ano depois, quando seu contrato de trabalho terminou. Infelizmente, não sei como prosseguiu sua carreira profissional. Fiquei até achando que eu servia para o trabalho de seleção, considerando essa única oportunidade que tive. Creio que, diante do papel, na elaboração de uma redação,  fica muito mais fácil mostrarmos quem somos. O fingimento não tem lugar! Infelizmente, dá trabalho para avaliar; por isso, a maioria das seleções, pensando principalmente em cargos públicos, começa (e até termina) pelos testes em que, não só conta o conhecimento, como a sorte e até a esperteza. Quantos potenciais perdidos e quantos espertalhões contratados!

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