domingo, 18 de dezembro de 2011

BROTOEJAS E PEDRADA NA VIAGEM A GUARAPARI

Era para ser uma viagem emocionante. E foi! Em 1979, eu trabalhava meio período e estava começando o terceiro ano da faculdade. Para variar, a grana era prá lá de escassa naqueles tempos. Aos quase 20 anos, eu nunca havia ficado mais que algumas horas em alguma praia, que só visitava na condição de autêntica farofeira. Foi aí que a Bete, minha amiga de muitos anos, convidou-me para ir com sua família para Guarapari, onde ficaríamos num hotel por 9 dias. Nove dias!!! Não resisti, apesar de não ter um tostão guardado para uma ocasião dessas. Juntei uns caraminguás, compramos passagem de ônibus e seguimos por longas horas, num destino a 900 km de S.Paulo. Lá na praia, tudo era novidade para mim: as areias pretas, acordar e ir dormir sem ter que ir embora daquele lugar tão gostoso, os passeios, ... até a comida do hotel, que não era tão grande coisa, mas como eu era muito esfomeada, comia muito. Parecia que tinha voltado de uma guerra. Até que, por não usar protetor solar (acho que usava bronzeador para queimar mais), comecei a sentir uma coceira dos braços. Conforme eu coçava, minha pele ia ficando vermelha e as brotoejas iam aparecendo e se espalhando. Um horror! Depois de 5 dias, eu já não aguentava mais e ainda ficaríamos ali por um tempinho. Foi difícil esperar, embora eu ainda tivesse alguma esperança de a coisa melhorar. Mas, que nada! Só piorou. Foi espalhando pelo pescoço, costas, apareceu na barriga, nas pernas, ... Na volta, no ônibus, combinamos, a Bete e eu, de revesarmos a janelinha. Aí percebi que minha falta de sorte ainda não tinha acabado. Assim que trocamos, e era eu que ficaria na janela, uma pedrada acordou-me do primeiro cochilo que conseguira tirar. O vidro estilhaçou-se todo e entrou na minha roupa, nas minhas orelhas, ... E, pior, com o vento que entrava, não dava mais para ficar ali no banco. Resultado: como não havia nenhum banco vago, terminei a viagem sentada nos degraus do ônibus, ao lado do motorista, que nem simpático foi comigo. Ninguém, absolutamente ninguém, dispos-se a me ceder, ainda que temporariamente, uma poltrona para que eu descansasse um pouquinho. Uma solidariedade !!!!
Na volta, somente alguns dias depois, com o tempo mais fresco, é que as brotoejas começaram a secar. O resultado não foi o bronzeado tão sonhado, lógico, mas o alívio de sentir a coceira passar foi fantástico.  Eu adorava ficar arrepiada de frio. Já os estilhaços de vidro ainda saíram da minha orelha por uma semana. Não sobraram sequelas, só a frustação do bronzeado que não obtive, além do extremo cuidado que tive daí em diante com minha falta de melanina. Já o custo da viagem, que paguei depois, foi um mês inteirinho do meu salário que acabara de receber. Nem sei como consegui grana para sobreviver até o salário seguinte. Ô dureza!!

A HISTÓRIA DA CARLOTA

 A Carlota chegou às nossas vidas em setembro de 2008. Foi uma sequência de acasos com um final inesperado e vitorioso, graças à obstinação dessa criaturinha.

Ao ir para o trabalho, eu pegava o metrô na estação Sumaré, onde eu via vários gatinhos que ficavam perambulando por ali. Uma noite, enquanto aguardava que meu pai chegasse para me dar uma carona de volta para casa, notei uma gatinha que mancava, junto aos outros. Fiquei com pena e resolvi resgatá-la para dar à minha sogra, já que a Charlote morrera pouco tempo antes. No resgate da Carolina, a manquinha, fiquei sabendo que quem cuidava de mais de 20 gatos por ali era a Dona Masako, um doce de criatura que se entrega à missão de salvar o maior número de vidas que ela consegue, naquela região.

Foi contando a história da Carolina para o Rafael. que ele perguntou se tinha mais gatinhos como ela por lá, que ele pretendia adotar para fazer companhia às suas outras duas gatas. Pedi, então, à Dona Masako, que escolhesse um gatinho que precisasse mais desesperadamente de sair das ruas. Imediatamente, Dona Masako lembrou-se da Carlota, que nem nome tinha, uma gatinha que fora castrada, perdendo os filhotes que esperava e foi devolvida às ruas, por não ter nenhum adotante que a quisesse. Nas ruas, seu "endereço" era embaixo de um viaduto, em Pinheiros, próximo à Av.Sumaré, de onde a Carlota não se afastava, esperando pelo seu destino.

Quando meu pai chegou com a Carlota na minha casa, que seria seu lar provisório, a primeira providência dessa hóspede foi fazer xixi na minha cozinha inteira, tão desesperada ela ficou com o lugar estranho onde chegara. E, antes de doá-la ao Rafael, decidi levá-la ao veterinário e fazer exames de possíveis doenças transmissíveis às outras gatas dele. E qual não foi nossa tristeza ao saber que ela era portadora de FELV! Quando os gatos têm esse vírus, que não contamina o ser humano, eles têm de ser "filhos únicos". Aí não tive escolha senão destiná-la à minha mãe, único lugar para onde eu poderia levá-la, já que não poderia ficar junto das minhas gatas.

Mesmo a contragosto, minha mãe teve de aceitá-la. Mas, duas semanas após sua chegada, minha mãe ligou-me dizendo que a Carlota estava comendo a areia da bandeja e estava muito fraca. Liguei para nossa veterinária, a Dra.Helena, que nos orientou a levá-la ao Pronto Socorro, pois ela certamente estava com uma anemia severa. Foi o que fizemos e descobrimos que ela tinha uma doença transmitida pela pulga, que a estava matando rapidamente. No Pronto Socorro, a veterinária que cuidou da Carlota achou, inicialmente, que ela não sobreviveria, dada a rapidez com que a Carlota foi enfraquecendo. Numa de nossas visitas, ela explicou que estava impressionada com o estado de fraqueza em que ela chegou, ao mesmo tempo em que via os sinais de que a Carlota lutava desesperadamente para sobreviver, o que era constatado pelo seu exame de sangue. E tanto lutou, que sobreviveu. Seu caso ficou famoso no Hospital veterinário.

Mais tarde, minha mãe contou que fizera uma promessa para São Francisco de Assis que, se a Carlota sobrevivesse, ficaria com ela, idéia que ela rejeitava até aquele momento. Quando voltou para casa, ainda teve de tomar um remédio durante um mês, coisa que meus pais faziam muito sem jeito, mas que conseguiram dar conta.

Tempos depois, foi muito bom chegar à casa deles e ver os três juntos assistindo TV. A Carlota não ficou mais doente e pode ser até que tenha derrotado o vírus da FELV, de tão forte que está agora. Ainda não repetimos o exame porque ela detesta sair de lá. É só ver a gaiolinha que entra em pânico. Também, né, depois de finalmente conseguir um lar carinhoso, não é nada bom se arriscar a perdê-lo!! Essa deu um duro danado para conseguir esse cantinho para viver!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

QUER SER UM BOM EXEMPLO?

Sempre fiquei incomodada ao ver cães e gatos abandonados ou  cavalos magros puxando carroças lotadas sob chicotadas, coisas que eu via desde pequena, morando na periferia de São Paulo. Sem falar na tristeza ao ver pássaros em gaiolas, touradas, utilização de animais em circos ou rodeios, e tantas formas de torturas inventadas pelo ser humano para seu entretenimento.
 
Mas, apesar de sentir pena, eu achava que era um problema meu, já que isso acontece desde sempre. Pelo menos, era o que me diziam: “É, mas fazer o quê, com tanto problema no mundo?” Realmente, o mundo tem muitos problemas, muitos de difícil solução. 
Bom, aí veio a Internet e todas as suas tão infindáveis possibilidades, dentre tantas a de descobrir que eu não era a única a me incomodar com a forma como os animais são abandonados e maltratados. Antes da Internet, se eu ameaçasse falar da minha preocupação com os animais, eu ouvia o clássico: “e com as crianças, você se preocupa?” Ainda ouço isso, mas agora sei que o problema não é comigo e sim com a falta de informações e de reflexão por parte dos supostos críticos. As pessoas que se interessam por ter animais, cães ou gatos, automaticamente pensam em comprá-los, de preferência aqueles considerados “de raça”, sugerindo, assim, necessidade de ostentação. Por outro lado, existem milhares de animais abandonados pelas ruas, e um enorme número de abrigos de pessoas que, mesmo sem recursos financeiros,  por compaixão dos bichinhos, acabam por acolhê-los. A falta de informação e o raciocínio limitado, que a maioria das pessoas dedicam ao assunto, criam um cenário no qual as pessoas que têm compaixão e refletem sobre o motivo pelo qual é mais do que justificável se importar com os animais, são moralmente violentadas, quando suas motivações tão racionais quanto emocionais são desqualificadas com argumentos de rebuscamento vulgar.

Cães e gatos são deixados às suas portas, de “raça” ou não,  e essas pessoas verdadeiramente altruístas, acolhem-nos por não verem outra solução, embora sempre já estejam muito, muito acima de suas possibilidades. Esses assim chamados protetores de animais normalmente não têm sequer como manter a si próprios, mas acolhem os bichos dependendo exclusivamente das doações que pedem e por elas esperam na maior angústia, pois, se não vierem, terão de conviver com animais passando fome, sem poder tratá-los, haja vista que a maioria é deixada em abrigos em estado deplorável. Nem é preciso dizer que receber ajuda financeira, num mundo onde há tanto trambique, é coisa complicada. Aliás, ninguém critica colecionadores das mais diversas tranqueiras, mas se você disser que ajuda abrigos de animais, dizem que a prioridade é o “ser humano” (?!). 

Voltando aos abrigos, não é difícil imaginar, também, que, embora o que esses protetores mais queiram é que apareçam adotantes, pessoas que, ao invés de COMPRAR um cão ou gato num Pet Shop, procurem nos abrigos por um novo amigo, os adotantes são raríssimos. Há uma regra entre os protetores que os animais devem doados após serem tratados, vacinados e castrados, já que um animal não castrado pode dar origem a milhares de outros animais. Já os “Pet shops” não têm essa preocupação, pois castrá-los diminuiria o lucro/unidade. 
Acredito, na melhor das hipóteses, que quem compra um animal, por realmente gostar de animais e não para ter mais um objeto de consumo a ostentar, não tenha noção da possibilidade de adotá-lo num abrigo ou nem cogite tirar um da rua, prática não corrente em nossa sociedade, por falta de informação e conseqüente reflexão. Ninguém pega uma doença se tiver práticas higiênicas ao recolher o animal. O fato é que os abrigos só são lembrados para DESOVA de animais. “Quer se livrar do bicho? Eu conheço uma velhinha que “pega”!!!!! E aí a prefeitura cai em cima do protetor, pelo excesso de animais, não causado pelo protetor mas pelo abandono, tanto daqueles que descartam os bichos que compraram, quanto do Poder Público, ineficiente no controle populacional através de castrações e doações responsáveis.

Pessoas que recolhem animais abandonados estão prestando um serviço ao Estado, que deveria ser responsável por elaborar políticas públicas para os animais domésticos, já que todos os animais são tutelados pelo Estado, conforme determinado pela Constituição Federal.  E não poderia ser diferente, já que o acolhimento de animais é SANITÁRIO, pois tanto se fala que é um perigo pegar doenças de animais, ainda mais se eles estiverem doentes nas ruas e as sujando; também, e talvez até de mais importância a ser destacada, é que  esse trabalho dos protetores é também EDUCATIVO, uma vez que claramente ensina, sobretudo aos jovens, a importância de se ajudar o outro, sejam pessoas ou animais em estado de sofrimento. É não se divertir com o sofrimento alheio. É não desmerecer a vida do outro. É uma aula para como se tratar as pessoas. Trata-se verdadeiramente de uma cultura de paz e não violência, de demonstração da compaixão e do acolhimento... e também do não julgamento do outro pela "raça", cor ou sexo. 

Se é possível conseguir adotantes para animais, com uma política conjunta de castração e proibição de comércio, por que continuar com o extermínio nos CCZ’s, cujas mortes acontecem de forma violenta e indiscriminada?
Quando saem notícias nos jornais de que o mercado PET cresce tanto, enquanto os abrigos estão cada vez mais lotados, fico pensando no que é a falta de informação, culpa de nossa imprensa tão desinformada e incompetente: sempre que aparece alguma matéria no jornal, é sobre “artigos de luxo” para poodlezinhos de madames, que usam o colar tal, que custam milhares de reais, deixando as pessoas, que não gostam tanto de bichos, indignadas porque os bichos vivem melhor que as crianças. Lógico! Até eu me incomodo quando o bicho representa um gasto absurdo mensal, até porque o cachorro não está nem um pouco interessado nisso. Quando vejo empregadas passeando com cães aqui no meu bairro classe média, tenho certeza que o patrão gasta mais com o cachorro do que com a empregada !!!! Mas isso já foi assunto de outra postagem neste blog.
Se você, leitor, ainda achar que quer um cão ou um gato “de raça” (olha o holocausto aí, gente!), saiba que esses coitados estão propensos a muito mais doenças, dado o cruzamento entre famílias, para tornar a raça “pura”. Vira-latas, como nós todos somos, são fortes, inteligentes, não precisam da tosa “da raça” (estão sempre prontos!), fiéis, até heróis e, ainda assim, são melancolicamente rejeitados!!!!!
Por isso, caro leitor que aqui chegou, quando pensar em ter um bichinho, ou souber de alguém que esteja pensando no assunto, recolha um animal abandonado ou procure num abrigo. São inúmeros. Você fará um ótimo negócio, pois o bicho será gratuito. Não custa tanto ser racional. Você pode tornar o mundo menos cruel e dar um grande exemplo a seus filhos, aos vizinhos, ao cunhado, ...