domingo, 2 de outubro de 2011

AS ÁRVORES DA CIDADE DE SÃO PAULO

Hoje, acordei ao som da motosserra. Novamente. Há pouco mais de 2 anos, a prefeitura da cidade de São Paulo mandou cortar 5 árvores em frente ao meu prédio.Todas supostamente condenadas. Eram lindas, frondosas, muitos passarinhos tinham lá seus ninhos e eu acordava com seu canto.
Até que um dia uma árvore decidiu cair no meio da madrugada, atingindo um carro. Sem nenhum ferido. Carros são fabricados não sei quantos por minuto. Aquelas árvores tinham pelo menos 30 anos de existência. Inconformada, fui atrás da sub-prefeitura, consultei legislações a respeito, mendiguei por dados que os engenheiros responsáveis teriam, mas não consegui acesso a nenhum laudo que comprovasse que as 5 árvores estivessem realmente condenadas. O atendimento telefônico foi péssimo, um passava para o outro. Por e-mail, tentei tudo que encontrei, sem nenhum retorno. Só um engenheiro disse que me "mostraria" os laudos, se me encontrasse pessoalmente, e a título de "favor". Ora, uma cidadã que tem todo seu horizonte alterado, pelo corte de tantas árvores, precisa pedir favor para saber o que realmente ocorria com as pobres árvores? Recusei a gentileza!
Por falta de opção, comecei a cobrar o replantio dessas árvores. Após mais de 2 anos, seguidas cobranças da sub-prefeitura, que levaram, dada a minha insistência e persistência, a duas tentativas de replantio, muitos dias levando água para as mudas, algumas vandalizações feitas por sei lá quem, hoje apenas três delas mostram sinais de que um dia crescerão, caso mais ninguém as destrua, algo bastante difícil de acontecer, considerando sua fragilidade.
Desde então, passei a observar o resto da cidade por onde circulo. Percebi que as árvores da cidade lutam sozinhas, contra tudo, para sobreviver: estão deformadas por podas mal feitas, têm suas raízes sufocadas, cimentadas até o caule, tentam levantar esse cimento para respirar, receber a água da chuva, são podadas sem critério, basta incomodarem algo ou alguém, são as últimas na lista de prioridade, apesar de responsáveis pelo ar que respiramos e pela temperatura cada vez mais alta nesta cidade. E como há poucos lugares nas calçadas para as árvores! Sempre há guias rebaixadas. Parece que elas sempre incomodam!
Quando são arrancadas, qualquer que seja o motivo, não há replantio. Aqueles buracos onde estavam, no máximo, viram "jardineiras". Se, por um milagre, forem replantadas, as mudas fracas, de baixa qualidade, sem rega nos períodos de seca, morrem sem qualquer chance. Onde quer que estiverem, nenhum cidadão  se sente responsável por elas. Essas mudas ficam totalmente abandonadas, salvo raríssimas exceções. Resumindo: São Paulo, que está longe de ter o mínimo de verde para combater a poluição e a temperatura em constante elevação, está sem qualquer chance de sair dessa condição. A população não se importa, não se sente responsável, a prática da cidadania não existe, a prefeitura pouco ou nada faz, as empresas terceirizadas que fazem algum suposto replantio nunca voltam para ver o que aconteceu com os gravetos que plantou, só há discursos e nenhuma prática. Provavelmente, os gravetos secos um dia plantados, que nunca se tornarão um ser vivo, contam para as estatísticas como mais uma árvore plantada na cidade! Para não dizer da falsa comoção quando uma árvore doente, não resistindo a tantos maus tratos, cai e provoca um acidente. Aí os cidadãos se manifestam, dizendo que a prefeitura a devia ter cortado antes. Por que não tirar os carros da cidade, então, estes sim causando um zilhão de acidentes fatais? Infelizmente, estou certa de que o pouco que resta de mancha verde nas ruas rapidamente desaparecerá. Salvo se pelo menos quem concordar comigo, passe a fiscalizar, cobrar, regar, enfim, prestar atenção no que vem ocorrendo. Já é quase tarde demais para se pensar nisso.

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