quarta-feira, 26 de novembro de 2014

E O TÁXI PAROU .....

Quem era o motorista? Uma figura ímpar, carismática, tanto indo por estranhos caminhos, como ser malufista de carteirinha, quanto por defender crianças e animais quando essa posição era bem pouco frequente. Nunca deixou que seres desprotegidos sofressem qualquer tipo de violência em sua presença. Foi "fiscal da UIPA" (União Internacional Protetora dos Animais) quando pouco se pensava no sofrimento dos cavalos que puxavam carroças pela cidade de São Paulo: parava os carroceiros, conversava com eles, tirava-lhes o chicote, às vezes os arreios, para forçá-los a ir buscar na UIPA, onde recebiam um "sermão" antes de receberem os instrumentos de tortura de volta, se é que os recebiam. Meu herói. Meu pai. Muito antes da Internet, fez sozinho o que ninguém consegue imaginar. Quando temos compaixão pelos animais, sentimo-nos sozinhos, pois esse sentimento incomoda, é afrontador, questiona, tira outros humanos da zona de conforto, intimida e provoca reações de ódio. Ódio pela compaixão. Meu herói, ao final da vida, já com uma anemia persistente que lhe tirava as forças, concluiu que não queria mais comer carne, seu alimento preferido por toda a vida, quando ainda não percebia o que teve a chance de ver, nos últimos dias de sua jornada, quando disse: "é errado comer os animais" disse ele na última semana de vida. Nunca imaginei, mas ele teve a coragem de assumir essa posição. Foi coerente ao fim, ao cabo. E viveu o suficiente para ver seu amado Coríntians campeão do mundo. Viveu para ver o Palmeiras ser rebaixado. Viveu para conhecer o "Gambazão" num jogo da copa do mundo de 2014. Mal conseguia andar devido à anemia, mas fez um esforço enorme para chegar ao estádio. Gostava de tomar leite com groselha de colherzinha, fazendo barulho ao sorver cada gole! Falava mal dos motoristas que não tinham a chapa do carro de S.Paulo. Quem vinha de São Bernardo tinha vindo do "meio do mato". Andava sempre com as calças caindo. Nascera na Avenida São João, mais paulistano impossível, mas trocava os eles por erres sem a menor cerimônia: as "carças", o "vardemá", no melhor estilo Adoniram ... E seu anjo da guarda workaholic japonês, depois de salvá-lo de tombos, da convulsão que teve dirigindo o táxi, com passageiro e tudo, quando um rapaz viu a situação, entrou no carro e dirigiu até o hospital onde ele foi salvo, que cuidou para que nada acontecesse quando ele foi assaltado, que estava firme quando ele teve um princípio de AVC e foi socorrido por um providencial carro de polícia que passava exatamente quando ele desabou na rua, que sempre esteve firme a cada situação de perigo, também foi tão bondoso ao não deixá-lo saber que a Dilma ganhou no segundo turno das eleições: meu herói ficou inconsciente antes do resultado final!! Não teve que engolir a quarta vitória do PT! Foi em paz, partiu tranquilo. Ao ser velado, estava com o semblante calmo, sendo acarinhado pelas crianças presentes, como se soubesse que estavam ali, crianças que ele amou com paixão pela vida toda. Partiu em paz, deixou uma lição de amor aos que não podem se defender.