quarta-feira, 4 de abril de 2012

EXPLORAÇÃO TERCEIRIZADA

Uma das poucas diferenças entre o ser humano e o restante dos representantes do mundo animal é a complexidade de tarefas para sua sobrevivência com um mínimo de dignidade: como se veste, o ser humano precisa que alguém lave e talvez passe suas roupas; como precisa alimentar-se, alguém há de se dispor a comprar os ingredientes e preparar a comida, além de, depois, lavar tudo o que se sujou para esse preparo, assim como para sua deglutição; como usa o banheiro, há de haver um semelhante seu que cuide da limpeza do recinto específico, que em algum momento precisará ser feita; e, como dorme numa cama e toma banho (pelo menos deveria fazê-lo regularmente), também é necessário que as roupas de cama e banho também passem por um processo de higiene periódica. A questão que quero colocar é justamente quem cuida dessas tarefas, quando o próprio ser vivente não se sente capaz ou não tem vontade de cuidar de si mesmo. Arriscar-me-ei a expor minhas inquietudes a respeito da divisão do trabalho doméstico, presente em todos os tempos e culturas de que temos notícia.
Vou começar pelo que considero uma indicação de que a civilização pode ser finalmente justa na equiparação entre os seres humanos de diferentes gêneros e classes sociais: um deputado sueco cuida pessoalmente da sua sobrevivência num apartamento de aproximadamente 30 m2, conforme noticiado na mídia. Ou seja, ele limpa, faz compras, cozinha, separa seu lixo, lava e passa sua roupa!!
Já nestas paragens que habitamos, quem pode, paga para uma representante do sexo feminino, que se sujeite a ganhar o menor salário possível, para cuidar dessas tarefas consideradas menos nobres.
Claro que há inúmeras situações e disponibilidade de tempo dependendo do trabalho feito fora de casa, mas é evidente que parece que algumas pessoas vieram ao mundo para sujar e outras para limpar. E aquele que veio para sujar, dificilmente dará valor ao que veio para limpar. Pelo contrário, sempre vai se orgulhar de quanto não precisa fazer. Se tudo aparecer limpo, organizado, disponivel, nem se dará conta de como tudo aconteceu. Se, por outro lado, houver sujeira, a geladeira estiver vazia, a roupa suja se acumular, é porque alguém não cumpriu seu papel. O que fará o privilegiado constatar que precisa reclamar.
Infelizmente, dada a proximidade que separa nosso atual estágio civilizatório das sociedades mais primitivas, a condição feminina continua extremamente desfavorável no que tange à divisão igualitária do trabalho doméstico. O fato é que, em diversas formas, das mais evidentes às mais subliminares, a mulher continua sendo explorada dentro das famílias, a menos que possa terceirizar essa exploração, repassando para outras mulheres, no trabalho doméstico, a mesma exploração!!

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