sábado, 19 de novembro de 2011

O PROFESSOR DE CONTABILIDADE

Sempre estudei em escola pública. Em 1972/3, nas 7ª e 8ª séries, a oportunidade de ter sido aluna do Professor Renaldo Gardenghi determinou muito do que eu seria a partir daquela experiência. Nessa época, por acaso na época da ditadura, havia um projeto de profissionalização dos estudantes de escolas públicas, fato que me ajudou até a conseguir emprego com mais facilidade, não só por aprender contabilidade, mas também por uma cartinha que ele nos ditou numa aula. Pensando em nos ajudar, quando fôssemos procurar um emprego, ele elaborou, naquele mesmo momento, um texto; mandou-nos pegar uma folha de sulfite e ir copiando. Lá fui eu, tentando caprichar na estética do papel, sem linhas. Ele, enquanto elaborava e ditava a carta, foi percorrendo mesa a mesa e nos observando. Ao final, veio em minha direção, sem vacilar e sem pedir licença, pegou minha carta e foi mostrando para cada aluno como ele esperava que a carta tivesse sido escrita: estética, margens, letra bonitinha, capricho. Enquanto mostrava a carta, ele a chacoalhava e eu fui ficando tensa porque o papel estava ficando amassado! Hoje, não só recordo com detalhes de tudo isso, como sei que o parágrafo final deve ter me ajudado muito. Guardado na memória, tive oportunidade de usá-lo e consegui mais de um emprego com essas palavras. "Tendo boa vontade, aliada a um grande amor ao trabalho, tenho certeza de que, se aproveitada, tornar-me-ei o mais breve possível, depositária da estima e confiança de meus superiores." Quando "fui aproveitada", esforcei-me para provar que não tinha mentido, apesar da frase não ter sido criada por mim. Mas sempre é tempo de apresentar a referência bibliográfica e render-lhe os créditos.

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