terça-feira, 6 de dezembro de 2011

QUER SER UM BOM EXEMPLO?

Sempre fiquei incomodada ao ver cães e gatos abandonados ou  cavalos magros puxando carroças lotadas sob chicotadas, coisas que eu via desde pequena, morando na periferia de São Paulo. Sem falar na tristeza ao ver pássaros em gaiolas, touradas, utilização de animais em circos ou rodeios, e tantas formas de torturas inventadas pelo ser humano para seu entretenimento.
 
Mas, apesar de sentir pena, eu achava que era um problema meu, já que isso acontece desde sempre. Pelo menos, era o que me diziam: “É, mas fazer o quê, com tanto problema no mundo?” Realmente, o mundo tem muitos problemas, muitos de difícil solução. 
Bom, aí veio a Internet e todas as suas tão infindáveis possibilidades, dentre tantas a de descobrir que eu não era a única a me incomodar com a forma como os animais são abandonados e maltratados. Antes da Internet, se eu ameaçasse falar da minha preocupação com os animais, eu ouvia o clássico: “e com as crianças, você se preocupa?” Ainda ouço isso, mas agora sei que o problema não é comigo e sim com a falta de informações e de reflexão por parte dos supostos críticos. As pessoas que se interessam por ter animais, cães ou gatos, automaticamente pensam em comprá-los, de preferência aqueles considerados “de raça”, sugerindo, assim, necessidade de ostentação. Por outro lado, existem milhares de animais abandonados pelas ruas, e um enorme número de abrigos de pessoas que, mesmo sem recursos financeiros,  por compaixão dos bichinhos, acabam por acolhê-los. A falta de informação e o raciocínio limitado, que a maioria das pessoas dedicam ao assunto, criam um cenário no qual as pessoas que têm compaixão e refletem sobre o motivo pelo qual é mais do que justificável se importar com os animais, são moralmente violentadas, quando suas motivações tão racionais quanto emocionais são desqualificadas com argumentos de rebuscamento vulgar.

Cães e gatos são deixados às suas portas, de “raça” ou não,  e essas pessoas verdadeiramente altruístas, acolhem-nos por não verem outra solução, embora sempre já estejam muito, muito acima de suas possibilidades. Esses assim chamados protetores de animais normalmente não têm sequer como manter a si próprios, mas acolhem os bichos dependendo exclusivamente das doações que pedem e por elas esperam na maior angústia, pois, se não vierem, terão de conviver com animais passando fome, sem poder tratá-los, haja vista que a maioria é deixada em abrigos em estado deplorável. Nem é preciso dizer que receber ajuda financeira, num mundo onde há tanto trambique, é coisa complicada. Aliás, ninguém critica colecionadores das mais diversas tranqueiras, mas se você disser que ajuda abrigos de animais, dizem que a prioridade é o “ser humano” (?!). 

Voltando aos abrigos, não é difícil imaginar, também, que, embora o que esses protetores mais queiram é que apareçam adotantes, pessoas que, ao invés de COMPRAR um cão ou gato num Pet Shop, procurem nos abrigos por um novo amigo, os adotantes são raríssimos. Há uma regra entre os protetores que os animais devem doados após serem tratados, vacinados e castrados, já que um animal não castrado pode dar origem a milhares de outros animais. Já os “Pet shops” não têm essa preocupação, pois castrá-los diminuiria o lucro/unidade. 
Acredito, na melhor das hipóteses, que quem compra um animal, por realmente gostar de animais e não para ter mais um objeto de consumo a ostentar, não tenha noção da possibilidade de adotá-lo num abrigo ou nem cogite tirar um da rua, prática não corrente em nossa sociedade, por falta de informação e conseqüente reflexão. Ninguém pega uma doença se tiver práticas higiênicas ao recolher o animal. O fato é que os abrigos só são lembrados para DESOVA de animais. “Quer se livrar do bicho? Eu conheço uma velhinha que “pega”!!!!! E aí a prefeitura cai em cima do protetor, pelo excesso de animais, não causado pelo protetor mas pelo abandono, tanto daqueles que descartam os bichos que compraram, quanto do Poder Público, ineficiente no controle populacional através de castrações e doações responsáveis.

Pessoas que recolhem animais abandonados estão prestando um serviço ao Estado, que deveria ser responsável por elaborar políticas públicas para os animais domésticos, já que todos os animais são tutelados pelo Estado, conforme determinado pela Constituição Federal.  E não poderia ser diferente, já que o acolhimento de animais é SANITÁRIO, pois tanto se fala que é um perigo pegar doenças de animais, ainda mais se eles estiverem doentes nas ruas e as sujando; também, e talvez até de mais importância a ser destacada, é que  esse trabalho dos protetores é também EDUCATIVO, uma vez que claramente ensina, sobretudo aos jovens, a importância de se ajudar o outro, sejam pessoas ou animais em estado de sofrimento. É não se divertir com o sofrimento alheio. É não desmerecer a vida do outro. É uma aula para como se tratar as pessoas. Trata-se verdadeiramente de uma cultura de paz e não violência, de demonstração da compaixão e do acolhimento... e também do não julgamento do outro pela "raça", cor ou sexo. 

Se é possível conseguir adotantes para animais, com uma política conjunta de castração e proibição de comércio, por que continuar com o extermínio nos CCZ’s, cujas mortes acontecem de forma violenta e indiscriminada?
Quando saem notícias nos jornais de que o mercado PET cresce tanto, enquanto os abrigos estão cada vez mais lotados, fico pensando no que é a falta de informação, culpa de nossa imprensa tão desinformada e incompetente: sempre que aparece alguma matéria no jornal, é sobre “artigos de luxo” para poodlezinhos de madames, que usam o colar tal, que custam milhares de reais, deixando as pessoas, que não gostam tanto de bichos, indignadas porque os bichos vivem melhor que as crianças. Lógico! Até eu me incomodo quando o bicho representa um gasto absurdo mensal, até porque o cachorro não está nem um pouco interessado nisso. Quando vejo empregadas passeando com cães aqui no meu bairro classe média, tenho certeza que o patrão gasta mais com o cachorro do que com a empregada !!!! Mas isso já foi assunto de outra postagem neste blog.
Se você, leitor, ainda achar que quer um cão ou um gato “de raça” (olha o holocausto aí, gente!), saiba que esses coitados estão propensos a muito mais doenças, dado o cruzamento entre famílias, para tornar a raça “pura”. Vira-latas, como nós todos somos, são fortes, inteligentes, não precisam da tosa “da raça” (estão sempre prontos!), fiéis, até heróis e, ainda assim, são melancolicamente rejeitados!!!!!
Por isso, caro leitor que aqui chegou, quando pensar em ter um bichinho, ou souber de alguém que esteja pensando no assunto, recolha um animal abandonado ou procure num abrigo. São inúmeros. Você fará um ótimo negócio, pois o bicho será gratuito. Não custa tanto ser racional. Você pode tornar o mundo menos cruel e dar um grande exemplo a seus filhos, aos vizinhos, ao cunhado, ...

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